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30 de outubro de 2020

Alto Tâmega e o "estaleiro" de baixo


29/10/2020

Ainda em 2019 li uma noticia da iminente submersão de uma aldeia, para os lados de Ribeira de Pena, pela construção da Barragem de Daivões, integrada na 3ª fase do Projeto Electroprodutor do Tâmega.

Agendei de imediato uma visita ao local para tirar umas fotografias. Mau grado o aparecimento deste problema viral que ainda não nos largou da perna, adiei a deslocação.

Por um lado convencido de que o mundo está parado desde Março e por outro com vontade de aproveitar um magnifico dia Outonal, lá fui hoje à procura das casas em questão.

Como em todos os meus passeios, há sempre algo a correr fora do programado, sendo que até já desisti de programar. Go with the flow. Desta feita, em plena A3, baixo os olhos para os manómetros e vejo, ou melhor não vejo, o telemóvel que uso como GPS! A porcaria do suporte tinha-se desapertado, algo que outros utilizadores me tinham já alertado, mas nunca me tendo acontecido até à data. Ainda por cima não tinha colocado nenhum cabo de segurança. Desatei de imediato e por uns bons sessenta segundos a discorrer o meu repertório de impropérios e terminadas as variações encosto para poder pontapear algo. Salto da mota, baixo o olhar para colocar o descanso e.... vejo o telemóvel no chão! Ao se soltar do suporte tinha ficado preso algures nas carenagens e ao inclinar no descanso saiu! Tinha ganho o dia, tudo a partir de agora seria bónus. Retomo o passeio depois de limpar a viseira por dentro devido ao volume em que tinha lançado os referidos impropérios e passo os próximos Km's a sorrir e assobiar. Tão descontraído que... falhei a saída! Não sei se sabem, mas as saídas mais importantes das AE's estão sempre solitárias de modo a obrigar o condutor mais incauto a ter que fazer uma miríade de quilómetros para regressar ao ponto perdido. Enfim. Ficou compensado pelas maravilhosas curvas da Municipal 321 que saboreei até à ultima. E de novo quando me dei conta já tinha passado a saída para a N206 há muito! Desta vez não me importei, pois pude repetir o serpentear da serra, agora a subir. No entanto a N206 não aparecia. Dei por mim de novo na saída da AE. Perguntei a um local o caminho para Ribeira de Pena. Era mesmo por ali, só que primeiro pela N206 e só depois pela Municipal 321, não ao contrário :)

Ok, já comia qualquer coisa, mas o Tâmega estaria perto e era giro fazer o meu piquenique "marmita style" nas ruínas que procurava. E realmente estava. Só que ruínas nem para amostra.


Ao contrário de outros locais, como por exemplo no Gerês onde tive já oportunidade de mergulhar entre as paredes ainda de pé de muitas casas da aldeia de Vilarinho da Furna, submersa em 1971, aqui demoliram tudo antes. Nem o Covid os parou. O espaço onde a aldeia se erguia é agora um imenso estaleiro de obras em cima do Tâmega, com máquinas a movimentarem-se por todo o lado. Fiquei desapontado, tinha chegado demasiado tarde. Restava-me apenas uma oportunidade de não dar a visita por perdida, a ponte de arame! Além da aldeia, a barragem irá submergir também a ponte de arame no lugar de Lourido, sobre o rio Tâmega a ligar as freguesias de Rebordelo e Arnóia e essa eu tinha julgado ler que iria ser "transplantada". Recorri de novo aos locais e dei com ela. Ou melhor, dei com uma ponte de arame, nova em folha, enfiada num canto escondido atrás de uns campos. Se é bonita? É engraçada, mas é uma ponte de arame com tábuas de madeira. Abana ao passarmos e não cai. Mas não é A ponte de arame. Talvez com exceção da alvenaria das entradas, o resto é tudo novo. Nem restaurado, apenas novo. Talvez daqui a uns 100 anos alguém ache piada.



Era já perto das 3 da tarde e eu não tinha almoçado. Na estrada tinha passado por dois ou três parques de merendas mas virados a nascente e por isso já na sombra e estava a ficar frio. Nas serras fica frio rapidamente. Um pouco antes de chegar de novo a Ribeira de Pena vejo uma indicação na berma: Parque de Lazer. Não perco nada em tentar. E em boa hora o fiz. No largo fronteiro à Junta de Freguesia de Santa Marinha, esta edilidade resolveu gastar  os fundos comunitários que lhe couberam na criação de um campo de desporto polivalente, um parque de merendas e uma estrutura de apoio com salão de festas. Tudo novo a estrear. Aliás quase que arriscava dizer que poderei ter sido o primeiro a usar aquela mesa. Havia água, local para churrascos, árvores pintadas de castanhos e amarelos outonais, relva verde e viçosa, equipamento de ginástica, parque infantil, mesa de pingue-pongue  e até um espigueiro reconstruído, a enquadrar o local. Abusei ao ponto de conduzir a minha moto mesmo até à mesa (sem calcar a relva, note-se) e só depois fui à Junta pedir autorização. Que estivesse à vontade e usasse o que quisesse. Mesmo pandémico e "covídico" o Norte continua a fazer jus à fama hospitaleira. 










Após o repasto retornei à estrada, lentamente e a saborear cada curva, como prefiro.

Foi um bom passeio, gostei

4 comentários:

  1. Obrigado Rui por mais uma bela crónica de fazer inveja a quem está demasiado longe dessas paragens.
    Abraço
    P

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    1. Obrigado eu. Tens de aparecer por cá para darmos uma volta. Abraço

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  2. Belo passeio! E com crônica de excelência! Obrigado Rui. Boas curvas! Abraço!

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  3. Minimalista ao pá dos teus passeios. Abraço

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