Para sentir o prazer de ir sozinho, é preciso poder
escolher. Tenho a sorte de poder.
Um dia de folga no trabalho, coincidente com uma pausa na
chuva, pedia-me para pegar na Vespa T5, rumo às encostas da serra do
Barroso e da Cabreira, em busca do local onde foi gravada a curta metragem
“Volta à Terra”. Uz é uma pequeníssima aldeia serrana a 1000 mts de altitude
com uma dezena de casas, quase todas ainda em granito e uns vinte ou trinta
habitantes que sobrevivem do campo. Virada ao sol e com vistas até à Senhora da
Graça.
Depois de uns 60 Km’s de auto-estrada sem história, mesmo
antes de Ponte de Cavez, na N206, saio para uma estrada municipal a subir. Muito. Rapidamente a temperatura baixa para os 6 ou 5 ºC. Paro para fechar melhor o
casaco. A paisagem é já uma amostra do que me espera. Continuo a subir entre campos
verdejantes onde pastam as vitelas maronesas e muito gado caprino. Entro em Uz,
paro a Vespa em frente à Capela e dou a volta à aldeia em 10 minutos. Só
encontro um rapaz a chegar de motorizada, que desaparece dentro de uma das casas
e um senhor que arranja um muro que a chuva dos últimos dias estragou. Vejo
casas com o telhado de colmo caído, vejo casas arranjadas e arranjos que
estragaram casas.
Mas fico pouco tempo. A chuva ameaçava e a temperatura
baixava. Volto à estrada até à encosta seguinte da serra da Cabreira, para Moscoso,
à procura do “Nariz do Mundo”. Gosto destas estradas solitárias. Transmitem-me
uma sensação de paz. Não consigo evitar parar a cada poucos metros para fotografar, ou
apenas para ouvir o silêncio. Um rebanho corta-me o caminho. Desligo o motor e
aprecio a passagem feita sempre sob a atenção de três magníficos cães. Quando o
pastor aparece pergunto-lhe: Onde fica o Nariz do Mundo. Com um sorriso rasgado
devolve-me a questão: O restaurante ou o monte? O monte? Já o passou. Volte
para trás e siga por um caminho de terra à sua direita. Caminho de terra com
uma Vespa? Bem, não seria a primeira vez. Encontro-o e faço uns três Km’s em
terra batida, cortada por profundos regos de água. Chego ao fim para ser
presenteado com uma magnífica vista sobre o desfiladeiro, outrora conhecido como
Picoto do Castro. Valeu totalmente o trabalho que o caminho deu. Fico um pouco
a saborear a lugar, o silêncio, a paisagem a saber a liberdade. E o isolamento.
Sou convencido pelo vento frio a regressar à estrada. Sigo para Moscoso. Aldeia
ao estilo da anterior, mas maior. Já estava a ficar tarde. Vejo a tabuleta do
Nariz do Mundo, restaurante e ainda penso em parar. As nuvens escuras que se
adensavam ajudam-me a decidir. Faço a estrada de regresso à N206, de volta à civilização.
Tive pena de não ter tido mais tempo. Naquelas encostas
existem ainda mais duas ou três aldeias que merecem visita.
Na próxima vez.
Coool!
ResponderEliminarObrigado, Mestre
EliminarVespa + terra batida = combinação perfeita! :)
ResponderEliminarTotalmente
EliminarMuito bom!
ResponderEliminarObrigado. Abraço
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