Associar um passeio de scooter a aproveitar a pouca neve que temos por cá era por demais aliciante. Assim não pude deixar de aceitar a sugestão do Vasco para participar nesta fresca iniciativa do VCL, com uma variante, decidi levar comigo a minha filha.
Isso implicou, dada a pouca experiência da Francisca como pendura, ir de enlatado com a Heinkel a reboque. Um pouco contra natura para as minhas preferências e as da Heinkel, mas afinal não faltariam durante o fim de semana estradas maravilhosas por onde esticar as rodas. Embora amuada, a Heinkel lá subiu para o atrelado e deixou-se amarrar. Depois de uma viagem sem história ao passar a Covilhã e o altímetro acordou. Telefonema para o Serra, atrelado e Heinkel deixados na Pousada e ainda não tínhamos chegado ao restaurante já o jantar nos esperava na companhia de uns 20 ou 30 comensais bem dispostos. Neve nem vê-la a não ser por uns montículos perdidos, sujos e com ar compacto. Senti-me um pouco desanimado sem imaginar o que nos esperava. A meio do jantar entre dois copos de vinho e com a voz toldada pela... altura?, alguém anuncia que estava a nevar e muito.
Foi fantástico ver a paisagem cobrir-se rapidamente com um manto alvo e sentir os flocos gelados a tocar a cara. Poucos resistiram a interromper o repasto para admirar o espectáculo. As três ou quatro Vespas que estavam á porta e o meu carro começavam a confundir-se com a paisagem. Decidi voltar à pousada pois esperava o Vasco que já tardava. Não me lembrava de conduzir num piso tão escorregadio! Apesar de pesado o carro teimava em não manter a rota que lhe pedia e ao tentar subir a rampa de acesso à pousada percebi como isso seria difícil ou no mínimo perigoso. Deixei-o na beira da estrada, perigosamente perto da pá dos limpa-neves que começavam a passar a velocidades alucinantes para as condições e subi a pé. A CN gelada com o seu cavaleiro enregelado tinham acabado de transpor a custo os últimos metros e estacionavam ao lado da Heinkel, ainda manietada no seu atrelado e já esbranquiçada. Descemos de carro uns 100m para o Vasco ir jantar e tivemos que regressar a pé. O carro nem para a frente nem para trás. Meia noite e com a neve e o nevoeiro a dominar já a paisagem, chega o Mauro a ter de fazer uso do descanso da sua 300 para não resvalar a meio da rampa.Uma referência para os vespistas que de Aveiro chegaram já ao nascer do sol, a terem de subir a serra nos rastos dos pneus da Pick-up do Duarte. Começamos a perceber que a aldeia das Penhas da Saúde seria o nosso reduto para o fim de semana, como realmente acabou por acontecer. Na impossibilidade de pisar alcatrão optamos pelo plano B e fizemos vida entre o conforto dos excelentes quartos da pousada, o restaurante, um bar nas proximidades e a sala de convívio. Brincadeiras na neve e uns copos no bar, palpites à tuga aos carros atolados na neve dos visitantes domingueiros, bilhar, matrecos e televisão.
Acabou por ser uma boa oportunidade para pôr a conversa em dia e descobrir, graças a um comentário da Francisca, mais um motivo pelo qual gostamos destas scooters. Depois de nos ouvir conversar sobre as nossas aventuras e desventuras em duas rodas, comentou-me em privado: Pai, vocês gostam dessas scooters antigas porque elas avariam, não é? :)
Calhando ela tem alguma razão. Pena tive que as condições não nos tivessem permitido dar uns passeios, pois gostava de lhe mostrar que há muito mais nesta actividade. Ficará para uma próxima. Regresso no domingo pelo meio dia, facilitado pela melhoria das condições meteorológicas e da ajuda do grupo que até parou o trânsito para me facilitar as manobras com o atrelado de onde a Heinkel nem chegou a sair. Na descida para a Covilhã voltou-me a sensação de vazio por não ter feito nem um metro em duas rodas, misturada com o prazer que tive em ter levado a minha filha comigo.
Em balanço resta-me esperar pelo próximo para voltar a tentar aproveitar a serra de scooter. Nos mesmo moldes ou talvez não, mas espero que de novo com a companhia da Francisca. E a vossa, claro.
Caro amigo, foi com grande prazer que partilhei algumas das longas horas de espera por bom tempo, na conversa contigo!
ResponderEliminarNo resumo do fim de semana, apenas faltou mesmo foi as nossas maquinas rolarem, porque de resto foi tudo muito bom! Conversas, comidinha, aventuras... aquelas coisinhas todas que nos dão "barrote" para avançar em frente!
Ah! E diz à Francisca que eu gosto de scooters... porque as dos outros avariam! :D
...e que para a próxima a quero ver a "javardar" connosco!
btw, convenceste-me! Vou contigo ao Lés-a-Lés! ;)
Tive pena de não ir ...mas a minha proxima é vespaniada2011 :) parabens pelo blog
ResponderEliminarSinto que a minha Francisca me vai proporcionar momentos e sentimentos idênticos num futuro próximo e me vai dizer exactamente o mesmo, "vocês gostam dessas scooters antigas porque elas avariam, não é pai?!"
ResponderEliminarGrande Francisca, Rui. Cada vez simpatizo mais com a tua filhota. É que é de uma inteligência e de uma argúcia cristalinas! Já te tenho dito, compra-lhe uma scooter que isso passa-lhe. A não ser que lhe dês um dos teus xassos e ela te canse de... tantas vezes te chmar para a ires desempenar!
ResponderEliminarGostei da crónica e tenho, genuinamente, pena de que não tenhas tido oportunidade de dares umas voltas pela serra com a tua filhota.
Grande abraço. PedroSL
A Francisca merece que esta falsa partida seja reparada, em nova ocasião, para que saiba que os nossos chaços também divertem, muito para além da conversa sobre eles.
ResponderEliminarE a Heinkel também não merecia ficar exposta à inclemência do temporal, acorrentada, nem um tecto lhe deste, depois das alegrias que já te proporcionou. Ingrato! :-)
Abraço,
Vasco
Diz a sabedoria popular...
ResponderEliminarA verdade sai sempre da boca das crianças.
Excelente crónica e o passeio não deve ter ficado atrás.