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29 de abril de 2019

N15 e N108 da Série O Meu Quintal

Saio do Porto logo de manhã e sem destino, apenas a precisar de ar, dando por mim na N15. Estrada desinteressante ao inicio, mas que à medida que se afasta da grande cidade assume contornos de ruralidade bem mais agradáveis. O Vale Longo marca o ponto em que começa a ser giro olhar à volta. Há anos atrás, por motivos profissionais, fazia esta estrada diariamente. Nota-se uma melhoria considerável no piso e o aparecimento de várias rotundas, o que de mota nem é assim tão aborrecido. À entrada de Penafiel viro para Rans, não à procura do "Tino" mas sim a responder ao chamamento do Rio Douro, a pouco mais de uma dezena de Km´s dali. O caminho até lá presenteia-me com uma sucessão de curvas deliciosas, como a preparar a entrada na N108.
Desemboco perto do local de má memória, onde antes de 2001 se erguia a Ponte de Hintze Ribeiro. Agora olha-nos do lado sul o Anjo de Portugal.


Sempre junto ao rio, numa estrada com bom piso, brinca-se com a caixa de velocidades e com a inclinação da mota. Inevitavelmente em Lomba desliga-se o motor, aprecia-se o silêncio e delicia-se o olhar.

Ao aproximar-me da Barragem de Crestuma-Lever recordei-me dos bons momentos aquáticos que aqui passei e fui visitar a Marina.


Não muito diferente do que me lembrava, desapareceu a rampa onde costumávamos descer os barcos, mas nasceram outras duas com muito melhores condições, embora agora com acesso condicionado, provavelmente a algum clube mais ou menos elitista, a julgar pelo porte das embarcações que agora usam aquele local.


Além de um bar com esplanada há também espaços bem organizados para estacionar e ao percorre-los vislumbro por entre algum mato, o inédito de dois barcos, uma mota de água, uma carrinha e um jipe semi escondidos pela vegetação e em estado de sucata.






Regressa-se a casa por dez Km's de curvas, já com ar e apetite para o almoço.

15 de abril de 2019

A irreverência da adolescência

Não há como escapar. O crescimento, principalmente na fase da adolescência, vem sempre acompanhado de mais ou menos dores, atropelos, asneiras e atrevimentos.
É o sentir todo o sistema afinado e a trabalhar em conjunto, é a comparação com os outros, de preferência com vantagem, é até o desafio dos limites pessoais porque sim.
Não sendo isto um mal em si, é um processo que convém ser acompanhar, monitorizar, ajudar e orientar.
É de uma realização pessoal inigualável quebrar barreiras e exceder limites.
E na verdade é também assim que se conhece e dá a conhecer capacidades e limitações. Percebe-se o que há a melhorar e aceita-se o que vai ficar assim.
Mas este processo por vezes traz estragos, sendo de uma importância fulcral medi-los e minimiza-los. Tentar tirar do horizonte de excessos o que possa trazer danos irreversíveis e simultaneamente aproveitar os momentos de experiência com os riscos controlados.

Foi o que aconteceu com a "Handa Nagazoza"! Depois de muitas estradas percorridas a tentar perceber as potencialidades do motor tão cuidadosamente preparado pela Motocentral no inicio de 2014, surgiu o momento em que a perda do óleo especialmente concebido para as rotações que ele agora atinge, na sequência de um percurso mais duro fora de estrada, não restou alternativa senão usar um óleo normal para continuar a saga do Lés a Lés com que se estava a desafiar. Esta situação obrigaria, até se conseguir adquirir um lubrificante à altura, a um andamento mais moderado. A chatice é que o prazer de viajar com amigos em máquinas igualmente rápidas, leva a que se venha a esquecer, com alguma facilidade, esta limitação temporária e, Km após Km, se aperte um pouco mais com o acelerador. Até que, mesmo no centro geodésico de Portugal, ele disse chega! A velocidade excessiva, o calor do dia e uma subida acentuada, uniram-se para fazer o motor desta vigorosa Lambretta gripar! Felizmente sem consequências físicas para o piloto, o bloqueio da roda traseira ameaçava o final da aventura mesmo ali, a mais de um dia do seu término.
Não era só por mim que a situação previa uma desilusão com o fim precoce da aventura. É que tal como os Mosqueteiros, um por todos e...., este acontecimento poderia ditar o fim do divertimento de quatro amigos. Não podia ser. Pelo menos sem antes tentar tudo.
Saco de ferramentas para fora e começa-se a desmontar o grupo térmico. Depressa começamos a perceber que apesar de bloqueado, o motor não parecia ter quebras nos componentes. Uma pequena luz no horizonte. Com os conhecimentos conjugados de mim, do Miguel e do Paulo na criação de uma inteligência comum supervisionada pelo olhar atento da câmara fotográfica do Vasco, ponto a ponto fomos analisando os danos e tentando libertar o motor. Até que conseguimos. Graças à qualidade dos materiais usados na transformação que apesar da dilatação excessiva não partiram, o motor soltou. Faltava conseguir que trabalhasse. Após um acontecimento destes, a compressão no cilindro fica seriamente afetada e como todo o conjunto está afinado para um certo nível de performance, coloca-lo de novo a trabalhar não se afigura nunca uma tarefa rápida. Mas na verdade passa apenas por empurrar! Vigorosamente, é verdade, mas é apenas empurrar. Éramos quatro e a estrada subia... e portanto descia também. Iniciamos a saga de forçar o motor a rodar, à maior velocidade possível e durante bastante tempo. Já todos com as pernas esgotadas e com o final da descida a aproximar-se rapidamente, começávamos a considerar desistir. Até que o motor dá o primeiro sinal. Débil, quase inaudível, mas deu um sinal. Gritei para o resto dos "empurradores" que não desistissem agora, reparando nessa altura que dois jaziam já exaustos na berma. Restavam eu e o Miguel. O Miguel é um lingrinhas, mas com uma capacidade muscular equivalente a um rebocador industrial. Mais uns metros (que pareceram quilômetros) e o motor começa a funcionar!
Êxtase coletivo. Enquanto um mantinha o motor acelerado os outros recuperavam o folego e iam corrigindo as afinações para o novo estado do motor.
Sucesso. Uns 60 minutos depois da paragem forçada, estávamos já de novo a curvar como se não houvesse amanhã e apesar da perda de alguma potencia, a Lambretta completou com sucesso a viagem, retornando a casa sempre a trabalhar.
Depois de uns largos meses (mais de um ano... ou dois) de repouso, voltou agora à Motocentral para avaliar os danos e tratar da reparação. Já se percebeu que o cilindro é recuperável, o pistão não. Aguarda-me agora a tarefa de conseguir encontrar novo pistão com as características corretas, o que num motor com uma preparação não de série nunca é fácil. Já agora olhamos de lado para o carburador e percebemos que era engraçado colocar um maior!

Veremos.