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15 de abril de 2019

A irreverência da adolescência

Não há como escapar. O crescimento, principalmente na fase da adolescência, vem sempre acompanhado de mais ou menos dores, atropelos, asneiras e atrevimentos.
É o sentir todo o sistema afinado e a trabalhar em conjunto, é a comparação com os outros, de preferência com vantagem, é até o desafio dos limites pessoais porque sim.
Não sendo isto um mal em si, é um processo que convém ser acompanhar, monitorizar, ajudar e orientar.
É de uma realização pessoal inigualável quebrar barreiras e exceder limites.
E na verdade é também assim que se conhece e dá a conhecer capacidades e limitações. Percebe-se o que há a melhorar e aceita-se o que vai ficar assim.
Mas este processo por vezes traz estragos, sendo de uma importância fulcral medi-los e minimiza-los. Tentar tirar do horizonte de excessos o que possa trazer danos irreversíveis e simultaneamente aproveitar os momentos de experiência com os riscos controlados.

Foi o que aconteceu com a "Handa Nagazoza"! Depois de muitas estradas percorridas a tentar perceber as potencialidades do motor tão cuidadosamente preparado pela Motocentral no inicio de 2014, surgiu o momento em que a perda do óleo especialmente concebido para as rotações que ele agora atinge, na sequência de um percurso mais duro fora de estrada, não restou alternativa senão usar um óleo normal para continuar a saga do Lés a Lés com que se estava a desafiar. Esta situação obrigaria, até se conseguir adquirir um lubrificante à altura, a um andamento mais moderado. A chatice é que o prazer de viajar com amigos em máquinas igualmente rápidas, leva a que se venha a esquecer, com alguma facilidade, esta limitação temporária e, Km após Km, se aperte um pouco mais com o acelerador. Até que, mesmo no centro geodésico de Portugal, ele disse chega! A velocidade excessiva, o calor do dia e uma subida acentuada, uniram-se para fazer o motor desta vigorosa Lambretta gripar! Felizmente sem consequências físicas para o piloto, o bloqueio da roda traseira ameaçava o final da aventura mesmo ali, a mais de um dia do seu término.
Não era só por mim que a situação previa uma desilusão com o fim precoce da aventura. É que tal como os Mosqueteiros, um por todos e...., este acontecimento poderia ditar o fim do divertimento de quatro amigos. Não podia ser. Pelo menos sem antes tentar tudo.
Saco de ferramentas para fora e começa-se a desmontar o grupo térmico. Depressa começamos a perceber que apesar de bloqueado, o motor não parecia ter quebras nos componentes. Uma pequena luz no horizonte. Com os conhecimentos conjugados de mim, do Miguel e do Paulo na criação de uma inteligência comum supervisionada pelo olhar atento da câmara fotográfica do Vasco, ponto a ponto fomos analisando os danos e tentando libertar o motor. Até que conseguimos. Graças à qualidade dos materiais usados na transformação que apesar da dilatação excessiva não partiram, o motor soltou. Faltava conseguir que trabalhasse. Após um acontecimento destes, a compressão no cilindro fica seriamente afetada e como todo o conjunto está afinado para um certo nível de performance, coloca-lo de novo a trabalhar não se afigura nunca uma tarefa rápida. Mas na verdade passa apenas por empurrar! Vigorosamente, é verdade, mas é apenas empurrar. Éramos quatro e a estrada subia... e portanto descia também. Iniciamos a saga de forçar o motor a rodar, à maior velocidade possível e durante bastante tempo. Já todos com as pernas esgotadas e com o final da descida a aproximar-se rapidamente, começávamos a considerar desistir. Até que o motor dá o primeiro sinal. Débil, quase inaudível, mas deu um sinal. Gritei para o resto dos "empurradores" que não desistissem agora, reparando nessa altura que dois jaziam já exaustos na berma. Restavam eu e o Miguel. O Miguel é um lingrinhas, mas com uma capacidade muscular equivalente a um rebocador industrial. Mais uns metros (que pareceram quilômetros) e o motor começa a funcionar!
Êxtase coletivo. Enquanto um mantinha o motor acelerado os outros recuperavam o folego e iam corrigindo as afinações para o novo estado do motor.
Sucesso. Uns 60 minutos depois da paragem forçada, estávamos já de novo a curvar como se não houvesse amanhã e apesar da perda de alguma potencia, a Lambretta completou com sucesso a viagem, retornando a casa sempre a trabalhar.
Depois de uns largos meses (mais de um ano... ou dois) de repouso, voltou agora à Motocentral para avaliar os danos e tratar da reparação. Já se percebeu que o cilindro é recuperável, o pistão não. Aguarda-me agora a tarefa de conseguir encontrar novo pistão com as características corretas, o que num motor com uma preparação não de série nunca é fácil. Já agora olhamos de lado para o carburador e percebemos que era engraçado colocar um maior!

Veremos.



2 comentários:

  1. É isso mesmo, toca a tratar da Lambretta que ela merece!
    Ainda me doem as pernas de ver o Miguel empurrar-te rampa abaixo :-)

    Abraço,
    Vasco

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  2. Coitado do Miguel. Mas o tipo tem boas pernas. Já chegou o pistão e já foi tudo para a rectificação :)

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