Um dia cruzo-me com ele e anuncia-me a aquisição da Honda. Após uns minutos de conversa julguei perceber que a mota nova estaria destinada a fazer uma rodagem casa-trabalho.
Oferece-me uma voltinha na mota nova, o que recuso, pois quem me conhece sabe que detesto correr o risco de estragar os brinquedos novos de outros, mas surge-me uma ideia. Convido-o para ser o seu guia num passeio de 200/300 Km num dia por estradas bonitas. Aceita.
A Serra da Freita é uma das zonas aqui por perto que me agrada. Saindo da cidade já em curva e contra-curva pela sinuosa N108, atravessando o Rio Douro só em Entre-os-Rios em direção a Castelo de Paiva, onde iria acabar o aquecimento, pois seguia-se a N224 que percorremos em ritmo motociclístico até Arouca. Decidimos almoçar lá. Seria muito má ideia fazê-lo antes das 365 curvas em cerca de 20Km que acabávamos de percorrer. Há relatos de quem teve de parar a meio para tomar um Enjomin. Estrada terrível de carro, das melhores que conheço aqui por perto para fazer de mota.
Retemperados por uma magnifica posta, rapidamente retornamos à estrada. Já só nos apetecia rolar. A 500X comportava-se maravilhosamente, a Transalp continuava em casa, não obstante uma indecisão num cruzamento, em que parada, resolveu deitar-se à espera da minha decisão. Tive de me aborrecer e obriga-la a levantar-se.
Começamos a subida da serra com a primeira paragem na Senhora da Laje, pequena igreja da povoação de Merujal, onde se preparava um cortejo. Não ficamos para assistir, mas aproveitamos para respirar a paz do local.
Daqui seguimos para a Frecha da Mijarela, bonita queda de água que nascendo numa encosta, mantém a sua largura reduzida até à base. Existe uma pequena estrada que desce ao vale onde desagua, mas além de extremamente inclinada e sem saída, não termina na base da queda. Assim tiramos a foto da praxe e voltamos às curvas.
Tinha como ideia inicial seguir agora o sentido inverso até ao Porto, mas já há algum tempo que andava com curiosidade de conhecer a estrada do Portal do Inferno, para os lados da Serra da Arada. Ainda era cedo e o Nuno concordou!
Dei uma olhadela para o Oruxmaps a funcionar com uns mapas topográficos e lá me orientei.
Apesar de bem mais longe do que inicialmente me pareceu, chegar àquela estrada foi tão bom como percorre-la. Começamos a penetrar em terras de xisto e lousa com subidas impossíveis a alternar com descidas assustadoras, estradas onde mal caberia uma mota com malas laterais, curvas de cento e oitenta graus para todos os gostos e ribanceiras a pique de ambos os lados, numa paisagem de serra absoluta e silêncio só quebrado por nós. Estamos cada vez mais alto e o cenário deve mexer com quem tenha uma pontinha de acrofobia: imponente, bruto e, lá muito em baixo, vazio.
Paramos junto à placa que identifica o local. Passagem íngreme, no qual só cabe um carro de cada vez e que, desde sempre, amedronta quem aqui passa, dizem. Estamos a 900 metros de altitude e à nossa volta só temos o vazio e ao longe e para todos os lados, serra. Ficamos uns minutos a absorver a paz reinante.
Ao olhar para os pneus percebemos que devemos ter feito alguns daqueles ganchos um bocado no limite. Estávamos satisfeitos. De barriga cheia de tanto curvar.
Assim continuamos a estrada até S. Pedro do Sul, agora quase sempre a descer e com um dos coloridos mais bonitos que já vi numa serra. Urze e Tojo pintam os lugares de amarelo e lilás.
Lá chegados fizemos uma pausa para hidratação e rumamos em direção à costa, até à N1 e de regresso a casa, após 260Kms bem divertidos.
Bela volta :-)
ResponderEliminarAinda não tive o prazer de fazer esse troço do Portal do Inferno, está nos meus planos. Quem sabe de Lambretta!
Abraço,
Vasco
Se fores de Lambretta vão duas
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