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26 de julho de 2016

Xassos Urban Cup 2016 Motocentral Team


Em contraste com a modernidade do recente túnel que a atravessa, na passagem para a CM1240 somos levados de volta ao verdadeiro Marão, com os seus picos agrestes e vales profundos. Daqui até ao meu destino eram pouco mais de 17 Km, mas deixei que eles me tomassem o tempo que quisessem, confortavelmente embalado pelas curvas serranas que a Transalp tão bem sabe fazer, rumo a uma vila que o Lés deste ano me levou a conhecer.
Impossível errar a entrada da Vila de Fontes, com um "xasso" exposto dentro de um cubo de vidro, na rotunda que é a sua entrada.
Estava patente a dedicação e o empenho destas gentes do Norte, que já desde 2008 abraçam a iniciativa de organizar uma corrida com motorizadas dos anos 70, aquelas que faziam o dia a dia de tanta gente.
A ideia é simples. Três horas num circuito urbano, depois de uma partida à Le Mans, numa motorizada lenta, velha e insegura. Quem fizer mais voltas ganha.
Na altura o Duarte, exímio piloto conhecido como "O Foguete de Mangualde" tinha ficado entusiasmado pela ideia e desencaminhando o Miguel da Motocentral resolveram fazer equipa para este evento. Foram buscar a sucata mais esquecida no fundo da oficina, encheram-lhe os pneus e foram. A minha modesta perícia como piloto aconselhou-me a não fazer parelha com eles, mas como também precisavam de alguém para lhes prestar apoio... Chegamos ao secretariado exactamente ao mesmo tempo, às onze e 13, seguindo para o Paddock de forma a nos organizarmos. Mota abastecida e experimentada, inscrição confirmada, hora dos treinos livres. O Foguete de Mangualde acusava uma noite mal dormida, o Miguel também. Nada de importante. O Ribeiro, dono da Motocentral chega também. Estava completa uma verdadeira equipa de fábrica. E lá foram eles, à vez, experimentar a pista do "Xassos Urban Cup 2016". Regressaram entusiasmados e apreensivos em simultâneo. O circuito era estreito, com muitas curvas apertadas e descidas acentuadas. O piso tinha gravilha e as protecções eram fardos de palha e pneus. Os pilotos da Motocentral faziam tempos a rondar os 2:40.
Regressamos ao local da partida para a volta de reconhecimento que também pude fazer na minha mota.
Na verdade não iria ser fácil. Eram 51 motas das que fariam as delicias de qualquer coleccionador, algumas amarradas com arames, outras restauradas no dia anterior. Alguns pilotos sorriam com a perspectiva de umas horas divertidas, outros concentravam-se na resposta dos seus motores e travões, outros tossiam com a densa nuvem de fumo que estes pequenos motores produziam. Os caminhos eram de facto estreitos, o piso mudava rapidamente de paralelo polido para alcatrão derretido. A temperatura já subia aos 30 ºC. O volume da sonorização da pista interrompe a reprodução de Dino Meira na sua interpretação de Adeus Paris, Olá Lisboa
Motas de um lado, pilotos do outro. As Pit Babes saem da pista, 3...2...1
Numa aparente confusão os pilotos correm para as motas, ajudantes cruzam-se com pilotos, fotógrafos com comissários. Mas num fluir inesperado, todos arrancam.
O relógio começou a contar os 180 minutos de esforço extremo a que iriam ser submetidos pilotos e motores. Rapidamente se percebeu que dois ou três participantes se destacavam do pelotão, lançando duvidas sobre a real cilindrada dos seus motores.
Foi o Miguel a começar e eu após algumas imagens da partida, embrenhei-me pelo mato, tentando captar imagens melhores. Apesar de apenas existir circulação pedonal entre três pontos do circuito,  com um pouco de engenho e confiando no aspecto menos agressivo de alguns cães, fui avançando campos e quintais e conseguindo encontrar alguns pontos interessantes.
Pelo meio fui contando com a colaboração de alguns comissários de pista, bombeiros e passagens superiores improvisadas com tábuas pregadas e pranchas de andaimes. Assustava um pouco, mas se me recordar dos meus tempos de infância, andavamos de carro sem cinto, faziamos corridas de bicicleta nas estradas e bebíamos água de qualquer torneira. Apesar de completa, a organização pensa a segurança como algo que deve ser assumido pelas duas partes. O publico e os participantes. Todos respeitando deixam de ser necessárias as inúmeras proibições comuns em eventos mais conhecidos. Pude assim até ficar na passagem superior o tempo que quis, sentado ou de pé. Quando senti que estava a incomodar saí.
Já corriam há uma hora quando regressei à nossa boxe.
O termómetro marcava 37. Começamos a trocar de piloto a cada 20 ou 30 minutos, garantindo-lhes assim a hidratação necessária. Não nos era fácil perceber se estávamos bem classificados ou não, mas na verdade isso pouco importava. O sorriso estampado na cara de todos nós deixava perceber o gozo que aquilo nos estava a dar. Resolvi tirar tempos. 2:35... 2:33... 2:28... 2:20. Quanto mais conheciam a pista melhor tempo faziam. Foi preciso recordar os pilotos que a mota estava parada há 20 anos e se começavam a abusar ela poderia queixar-se. E realmente os travões foram ficando preguiçosos, as passagens de caixa de 4ª para 5ª só se conseguiam indo primeiro à 6ª, a suspensão da frente começou a bater em baixo. Mas nada parecia conseguir parar a nossa Sachs. Que pena eu tive nesta altura de não saber correr. Só me apetecia equipar e atacar a pista.
Nesta altura já mais de 20% das motas tiram desistido. Motores gripados, depósitos furados, pilotos desidratados. O sistema sonoro anuncia 20 minutos para o fim. Estava o Duarte a pilotar. Nesta altura era preciso evitar a todo o custo que alguma pequena falha mecânica nos impedisse de terminar. Pelo rádio indico-lhe para parar. Na passagem para o Miguel, abasteço e digo-lhe para apenas terminar. Sem arriscar nem stressar a maquina. Ele concorda. 2:30... 2:28... 10 minutos para o final... 5... corro para a meta com a máquina fotográfica. Chego mesmo na altura que a bandeira xadrez sai do secretariado e se dirige para a meta. Máquina em punho. Os pilotos começam a ver a bandeira a ser agitada. O Miguel também. Como uma criança apetece-me saltar, grito vitória, o Miguel acena para mim. Tinhamos conseguido. Tinhamos chegado ao fim. A Motocentral Team tinha completado com sucesso as três horas de resistência do Xassos Urban Cup 2016 na categoria Pro-Xassos, pelas mãos do Duarte e do Miguel, classificando-se em 13º lugar entre 28 motas da sua categoria, portanto motas já com algum nível de preparação, em que foi incluída apesar de não ter nenhuma preparação. Tal decisão da organização esteve correta porque estava equipada com um escape "de rendimento". Teve de ser. Quando a fomos buscar ao fundo do armazém nem escape tinha, por isso foi preciso deitar mão de um que servisse lá. Era de rendimento. Era o que havia.
Mas ninguém foi a Fontes buscar taças, mas sim diversão e essa foi mais que ganha. Adicionalmente soube bem ficar a meio da tabela das motas preparadas, com apenas gasolina e o tal escape de rendimento.
Antes da confirmação dos classificados, uma meticulosa verificação técnica abriu motores validando a cilindrada. Duas delas nem apareceram a essas verificações.
Não fiquei até ao final da entrega dos prémios pelo adiantado da hora e depois de uma bifana e duas de conversa arrumamos tudo e rumamos a casa.
E para o ano?




























Um agradecimento especial ao António Ribeiro da Motocentral que tornou possível esta participação


Por fim, avisando desde já que não sei filmar nem editar filmes, apresento 3 minutos de fumo, zumbidos e motorizadas enraivecidas:







10 comentários:

  1. Muito bom !
    Correram mesmo com aqueles pneus!?!??
    Tive pena de não ir assistir e ajudar na "estratégia de box" :-)

    Parabéns a todo o Team Motocentral.

    Abraço,
    Vasco

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    1. Tal como viste, mas mais. Suspensão da frente partida, travões de brincar, etc...
      Tinhas gostado

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    2. E volta ao artigo. Adicionei um video :)

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    3. Vi agora o video... corridas de rua fazem sempre corar de vergonha os Rossi e Pedrosa que acreditam que a sua profissão é o perigo. Fontes é o perigo.
      Uma Ilha de Man em slow motion. Incluindo nos travões.

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  2. Que bestial pá, até me vieram as lágrimas aos olhos, que saudades desses bons velhos tempos. Obrigado pela excelente crónica Rui. Abraço.

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    1. Então para de chorar e começa a apertar-lhe os parafusos.
      E volta a ver o artigo. Adicionei um video :)

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  3. José Augusto (Boss)25 de agosto de 2016 às 16:33

    Li tudo e gostei.
    Afinal Rui, temos mais um bom jornalista para redigir os passeios dos eventos do Grupo Motociclista da CGD, juntando aos outros já confirmados.
    Tenho a certeza de que vamos fazer um bom trabalho no blogue do Grupo CGD.
    Quanto ao tema em questão, imagino a ansiedade de ver chegado o fim da corrida e saber se a máquina iria ou não aguentar.
    Final feliz e boa classificação. Mas o importante é sem dúvida os bons momentos antes, durante e depois de um dia em cheio ligado às motos/xassos.
    Prometo que vou acompanhar este teu blogue e procurar deixar sempre um comentário.
    Um abraço.

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  4. Obrigado Boss :)
    De vez em quando tenho uns amigos que escrevem bem que se oferecem para escrevinhar umas tolices em meu nome e deixam-me ficar com o crédito :)
    Ainda bem que gostaste e sim, teria muito gosto em alinhavar umas palavras no blogue do Grupo Motociclista da CGD.

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  5. Boa noite Rui, acabei de tropeçar no teu blogue devido a um alerta atrasado que me informa quando se fala de xassos... e também adorei a descrição. Para quem passa um ano a organizar este pequeno fenómeno local é extraordinariamente saboroso ler que tipo de aventuras os nossos participantes viveram... e deste-nos um feedback fantástico. Obrigado... vou já partilhar na página oficial.
    Naturalmente que estás convidado para a 10ª edição, em Julho 2017!! Até lá... não aprendas a correr, senão não vais ter oportunidade de estar na passagem superior!

    PS - para a proxima envia-nos logo o link do teu blogg :)

    Abraço

    Pedro Canário
    XUC Fontes

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    1. Por acaso achava que na altura vos tinha enviado o artigo, mas pelos vistos não. O prazer foi meu em acompanhar o evento e conto estar aí em 2007. Se me deixarem andar a fotografar por todo o lado :)

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